Conto de Luís Câmara Cascudo

Entre os bichos da floresta, espalhou-se a notícia de que haveria uma festa no Céu.

Porém, só foram convidados os animais que voam.

As aves ficaram animadíssimas com a notícia, começaram a falar da festa por todos os cantos da floresta.

Um sapo, que vivia no brejo, lá no meio da floresta, ficou com muita vontade de participar do evento. Resolveu que iria de qualquer jeito, e saiu espalhando para todos, que também foi convidado.

Os animais que ouviam o sapo contar vantagem, riam dele.

– Imaginem o sapo, pesadão, não aguenta nem correr, quem diria voar até a tal festa!

Durante muitos dias, o pobre sapinho virou motivo de gozação de toda a floresta.

– Tira essa ideia da cabeça, amigo sapo. – disse o esquilo – bichos como nós, que não voam, não têm chances de aparecer na Festa no Céu.

Mas o sapo tinha um plano.

Horas antes da festa, procurou o urubu que era tocador de viola. Conversaram muito e se divertiram com as piadas que o sapo contava.

Já quase de noite, o sapo se despediu do amigo:

– Bom, meu caro urubu, vou indo para o meu descanso, afinal, mais tarde preciso estar bem-disposto e animado para curtir a festa.

– Você vai mesmo, amigo sapo? – perguntou o urubu, meio desconfiado.

– Claro, não perderia essa festa por nada. – disse o sapo já em retirada.

Porém, em vez de sair, o sapo deu uma volta, pulou a janela da casa do urubu e vendo a viola dele em cima da cama, entrou dentro dela.

Chegada a hora da festa, o urubu pegou a sua viola, amarrou-a em seu pescoço e voou em direção ao céu.

Ao chegar lá, o urubu deixou sua viola num canto e foi procurar as outras aves. O sapo aproveitou para espiar e, vendo que estava sozinho, deu um pulo e saltou da viola, todo contente.

As aves ficaram muito surpresas ao verem o sapo dançando e pulando no céu. Todos queriam saber como ele havia chegado lá, mas o sapo esquivando-se mudava de conversa e ia se divertir.

Estava quase amanhecendo, quando o sapo resolveu que era hora de se preparar para pegar carona na viola do urubu. Saiu sem que ninguém percebesse, e entrou na viola, que estava encostada num cantinho do salão.

O sol já estava surgindo, quando a festa acabou e os convidados foram voando, cada um para o seu destino.

O urubu pegou a sua viola e voou em direção à floresta.

Voava tranquilo, quando no meio do caminho sentiu algo se mexer dentro da viola. Espiou dentro do instrumento e avistou o sapo dormindo, todo encolhido, parecia uma bola.

– Ah! Que sapo folgado! Foi assim que você foi à festa no Céu? Sem pedir, sem avisar e ainda me fez de bobo!

E lá do alto, ele virou sua viola até que o sapo despencou direto para o chão.

A queda foi impressionante. O sapo caiu em cima das pedras do leito de um rio e, mais impressionante ainda foi que ele não morreu.

Mas nas suas costas ficaram as marcas da queda, uma porção de remendos. É por isso que os sapos possuem uns desenhos estranhos nas costas, é uma homenagem de Deus a este sapinho festeiro.

***

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Veja aqui a história Narciso

Maria Cecilia

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