Os anões mágicos

Conto de Figueiredo Pimentel

Custódio era um sapateiro que vivia exclusivamente do seu ofício, embora, por mais que se esforçasse, por mais que trabalhasse, nunca recebia justa recompensa pelo seu trabalho. Por isso era muito pobre.

Certa vez, se viu quase na miséria. Mas recebera uma encomenda, um par de botas de verniz. Ele usou todo o seu dinheiro para comprar o material e, com o lucro desse trabalho, desde que ficasse bom e fosse entregue sem falta no dia marcado, seria muito bem pago.

Porém, no dia em que ia começar o serviço, adoeceu. Foi uma fatalidade, porque não poderia entregar as botas no dia designado e, desse modo, iria perder o material.

À noite se deitou, sentindo-se muito mal, assolado por violentíssima febre. Pela manhã acordou ainda mais doente.

Assim mesmo, febril, tremendo de frio, e com terrível enxaqueca, tentou trabalhar. Foi procurar o verniz e ficou surpreso ao ver que as botas estavam prontas. Viu que estavam muito bem-feitas, o trabalho era esplêndido, digno de um hábil artista.

Quando o freguês veio buscar a encomenda, pagou mais do que havia tratado, tão satisfeito ficou com as botas.

Com o dinheiro dessa venda, o sapateiro pediu à esposa que comprasse material para fazer dez pares de botinas.

Ele deixou o material na oficina para começar a trabalhar no dia seguinte.

Mas, no outro dia, quando se dirigiu para a sua mesa de trabalho, encontrou tudo pronto, como na noite anterior.

Dessa vez também não faltaram fregueses. Com o dinheiro que produziu nessa venda, ele pôde comprar couro para outros pares.

No terceiro dia as botinas estavam prontas. E assim sucedeu noites e noites seguidas, durante muito tempo. Todo o couro que Custódio comprava em um dia, aparecia pronto, transformado em pares de botinas, muito bem-feitas. Desta maneira o sapateiro foi melhorando de vida.

Uma noite, na véspera de Natal, falou para sua esposa Adelina:

– E se nós passássemos a noite em claro, para ver quem nos ajuda dessa maneira?

Adelina concordou. Deixaram uma lamparina acesa, esconderam–se dentro de um guarda-roupas que ficava na oficina e esperaram.

Quando o relógio bateu meia-noite, dois anõezinhos, completamente nus, sentaram-se na mesa do sapateiro, e apanhando o couro, com as suas mãozinhas começaram a trabalhar com tanta ligeireza e cuidado que não se ouvia barulho algum.

Trabalharam sem cessar, até que a obra ficou pronta, desaparecendo então subitamente.

No dia seguinte, Adelina disse:

– Aqueles anõezinhos têm nos enriquecido, é preciso que nos mostremos reconhecidos. Eles devem sentir muito frio andando assim, nus, sem nada sobre o corpo. Vou costurar uma camisa para cada um, um paletó, uma calça e um colete, vou fazer um par de meias de tricô, e você faz para cada um, um par de botinas.

Custódio aprovou a ideia da mulher e, à noite, quando tudo estava pronto, colocaram os objetos sobre a mesa em vez do couro para os sapatos, esconderam-se de novo, para ver de que modo os anões receberiam os presentes.

À meia-noite, os anões chegaram e iam começar o trabalho quando, no lugar do couro, encontraram as roupas. A princípio mostraram grande espanto, que depressa se transformou em grande alegria.

Vestiram imediatamente as roupinhas, e começaram a cantar, dançar e saltar.

Depois desse dia nunca mais foram vistos, porém, desde então tudo o que Custódio empreendia dava certo e, aos poucos, ele foi se tornando o homem mais rico da cidade.

Conselho de Vó:  A gratidão faz milagres em nossa vida.

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1 comentário em “Os anões mágicos”

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